21 de dezembro de 2012

Uma carta a Bento XVI, o papa Darth Vader

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CIDADE DO VATICANO, 21 Dez (Reuters) - O papa Bento 16, indicando o desejo do Vaticano de forjar alianças com outras religiões contra o casamento gay, disse nesta sexta-feira que a família estava ameaçada "em seus fundamentos" por tentativas de mudar a sua "verdadeira estrutura".
Fonte: Uol Notícias

Como pode um líder de uma religião que prega amor ao próximo e o não julgamento ao mesmo próximo tratar o próximo tão distante a ponto de fazer campanha (sim, fazer campanha) contra o casamento gay.

"Sou contra se for menor que isso"

(...) argumenta que os planos de legalizar o casamento gay estão sendo feitos para o lucro exclusivo de uma pequena minoria.

Sim, papa, é para uma minoria. E é só por isso que essa minoria tem que lutar tanto. Porque a lei não concede a ela direitos que todos os outros tem. Essa é a ideia, seu obtuso!

Oops! É verdade! "Misqueci".





Essas coisas me deixam indignado. Ainda mais olhando para a história tão "pura" da instituição Igreja. Não estou falando de religião aqui (nem ele está). Estou falando da instituição que queimou pessoas, inventou histórias, massacrou outras minorias... Essa é a instituição que nada tem a ver com os princípios religiosos que prega. NADA! É um ódio tão mal fundamentado que me parece que todo o conceito do cristianimo é somente um artifício, uma máscara para algo muito mais maquiavélico.

Que venham a mim as criancinhas!

E, juro, não quero pensar que no contexto de mundo em que vivemos, isso seja possível. Talvez porque a referência próxima que ele tenha de gays são os padres da sua própria instituição Igreja, que abusam de meninos, mas é engraçado que não vejo a mesma veemência na punição desses canalhas e nem tanta preocupação com essas crianças que sofreram sim um dano sério, palpável, que já existe.

"Pode levar o menino pra minha sala que estarei fora hoje"





Vamos botar isso em jogo? Porque dois pesos e duas medidas, seu Bento? Você me enoja! Sua instituição hipócrita também. E me enoja por usar de modo tão sujo algo tão bonito quanto conceitos religiosos. Com alguns deles eu não concordo nem aceito, mas ainda assim acho conceitos bonitos em sua essência, pois dão guia e luz para quem não consegue seguir sozinho. E fazer uso de algo tão "sagrado" é, no mínimo, o passaporte para o inferno, que é pra onde o senhor deve ir.

"Vou pro inferno linda e glamurosa"

14 de dezembro de 2012

É difícil falar português pra ser ouvido

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Para um estrangeiro, a nossa língua mãe é um tanto complicada de se aprender. São inúmeras flexões verbais e composições de palavras que geram entonações completamente diferentes e isso é extremamente complicado para alguém que vem do inglês modular. Até nós, quando questionados por eles, temos certa dificuldade de explicar algumas coisas. Não é só "saudade" que tem uma explicação complexa. Aliás, é sobre nós mesmos que eu gostaria de falar.

Para nós, brasileiros, o português é quase um tabu. Se escrevemos uma mensagem como manda a ortografia e gramática, somos muito formais ou certinhos demais. Se usamos nosso idioma para expressar aqueles sentimentos um pouco mais íntimos ou reflexões da alma, é inevitável o medo do julgamento. E isso nós levamos a sério! Não é uma simples invasão norte-americana/inglesa em terras tupiniquins. São índios tentando se comunicar com quem não é índio. Nossas tribos nunca estão boas o suficiente. Passando batido pelo nacionalismo, meu foco é mais em como o português é usado, principalmente em redes sociais, para se expressar. Pouca gente vai assumir publicamente para seus "amigos" da Internet "estou me sentindo sozinho, sentindo falta de alguém especial ao meu lado". Mas quantas vezes você já não se deparou com frases como "feeling alone, miss someone by my side"? E não é que é a mesmíssima coisa?

É muito mais "cool" falar "cool" do que "legal", que aliás, soa brega para alguns. E quanto mais indecifrável for seu enigma nas redes, mais importante você se torna, mais holofotes você angaria pra você mesmo. Se eu quisesse dizer que não sei como lidar com situações da minha vida e soubesse húngaro, eu mandaria um "Nem tudom, hogyan kell kezelni" que ia me dar muito mais status e proteção para não ser julgado tão facilmente. Somente os mais interessados na minha vida, iriam parar 5 minutos para "Googlar" o que escrevi e isso fazer sentido. E esses teriam o prêmio de me entender melhor. Mas me questiono porque fazemos essa escolha? E fazemos todos, sem exceção. Mesmo quando em português, a frase tem que ser de impacto. "Refletindo..." é um bom enigma para gerar dezenas de comentários e aplacar um pouco das dores que essas reflexões podem ter causado. E as pessoas farão a boa ação de nos ajudar sem nem mesmo saber qual é o nosso problema. Não é fantástico?

Talvez. Mas há sempre o outro lado de cada questão. Será que não estamos ficando cada vez mais superficiais e deixando de aproveitar as coisas boas que cada pessoa pode nos oferecer de verdade? Peneirar, via enigmas, os verdadeiros interessados na nossa vida (à nossa maneira, sempre) é mais enriquecedor do que uma conversa sobre amenidades e coisas profundas com alguém numa mesa de bar, num café ou mesmo numa visita àquele amigos que nunca mais visitamos porque não temos tempo para muita coisa além de todos os nossos afazeres diários e o tempo despendido atualizando os amigos virtuais com coisas tão interessantes e importantes na nossa vida, quanto uma reclamação sobre o calor que tem feito ou o trânsito infernal que se enfrenta em São Paulo? Não acredito muito nisso.

Quando nosso perfil é um pouco mais observador, começamos a notar em pouco tempo de convivência, as pessoas que valem a pena ter um pouco mais de profundidade nas relações. E se formos espertos, saberemos como nos aproveitar disso para o bem de ambos. E profundidade pode vir dos mais diversos tipos de relação: amigos, colegas de trabalho, amores, rolos e affairs, família e até o porteiro do prédio. Tudo depende de quanto estamos dispostos a nos doar pro mundo. Dar a cara a tapa falando o português claramente não é fácil, mas é muito, muito mais gostoso do que se esconder atrás de pseudo-escudos. A liberdade se busca assim. Ser independente não significa que não podemos criar na gente certa dependência dos outros, mas sim que sabemos gerenciar essa dependência. Fácil não é, mas o caminho das pedras ensina a cada dia.

O medo de sofrer nos faz seguir por regras racionalmente estabelecidas. Seguindo-as, nos preservamos e não sofreremos no futuro. Pode até ser verdade, mas o presente deixa de ser vivido com a intensidade que poderia ter sido. Fui há pouco apresentado a uma música (em português) que diz: "quem vive de princípios, não tem meios nem fins / eu quebro as minhas leis pois só assim elas pertencem a mim". E esses versos têm muito a ver com o significado de um símbolo africano chamado Sesa Wo Suban. Traduzindo para o nosso português, ele ganha força se lido com cautela: "eu transformo a minha vida, minha personalidade". Ora, se o poder de transformação da nossa vida está somente em nossas mãos, porque temos tanto medo de expor algumas dores e medos?

É porque é difícil. É muito difícil falar português para ser ouvido.
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