Fazia tempo que não comprava uma revista. E fazia muito mais tempo que não ficava tão satisfeito por ter comprado uma revista ao invés de ler uma matéria na Internet.
O tema da edição de Outubro da Revista Trip é diversidade, tendo um foco maior na diversidade sexual. E, como eu tinha lido antes de pegar a revista em mãos, ela realmente é um tapa na cara... principalmente dos próprios gays. No blog que li nisso, o autor também disse algo interessante, que eu não tinha parado pra pensar. Existem duas publicações fortes voltada para o público gay: G Magazine e Junior. A primeira, tem um foco em nudez explícita tanto quanto a Playboy para o público hétero. A segunda, mais "leve" se assemelha a uma Capricho um pouco mais apimentada. Mas nenhuma das duas nunca estampou em suas capas um beijo gay. Aliás, na maioria das vezes, não saiu dos corpos masculinos trincados de malhação. Nessa, a Trip já sai na vantagem.
Zé Celso: o homem sexual |
Ao abrirmos a revista, a primeira matéria com a qual nos deparamos é uma entrevista com Zé Celso, um cara que é patrimônio do teatro nacional e blá blá blá, e que hoje tem foco no teatro orgiástico de origem grega, em espetáculos de 5h de duração com muita nudez exposta. Lendo a entrevista conseguimos entender um pouco dessa mente tida como maluca. Um pouco maluco, acho que ele realmente é. Mas não é necessário pra nossa sociedade existirem os diferentes, ter a diversidade? Já no ponto de chegar na entrevista fumando maconha, ele se difere de mim. E em muitos outros pontos da entrevista, existiram divergências com minha opinião, mas aprendi um tanto com ele nessa entrevista também. E aumenta um pouco nosso leque de como olhar o mundo.
O grupo do amor livre |
E essa abrangência de visões vai permeando toda edição. Desde o amor livre de um grupo de 5 mulheres e 2 homens que vivem juntos até o grupo virtual de surfistas gays, passando pela situação dos ursos (denominação para homens gays, grandes, barbudos e peludos) e travestis, que sofrem discriminação também dentro do meio gay.
Mas o norte da revista vem em uma ideia que é minha também. Eu acredito num futuro onde não haja a identidade gay, simplesmente porque ela não será necessária. Acredito num futuro onde pessoas amem pessoas, e não em homem ame homem, mulher ame mulher, homem ame mulher e por aí vai.
Há uma fala bem interessante do psicanalista Contardo Calligaris, que concedeu uma entrevista pra Trip:
A homossexualidade se tornou uma identidade necessária para tempos de luta. Nos últimos 30 ou 40 anos e certamente nas próximas décadas ainda terá que se afirmar para que haja uma paridade de direitos real e concreta. Mas, uma vez retirada essa necessidade de luta, não sei se a escolha de gênero do objeto sexual será o mais importante para definir a identidade de alguém... Sou homossexual ou sou heterossexual. Sim, e daí? Good for you. Não sei se verei esse novo mundo, mas espero que isto aconteça: que essa identidade se torne insignificante, pois não será tão necessária.
Imagem que ilustra a matéria sobre a violência contra gays em SP |
Outras matérias mostram como a homossexualidade é reprimida na Jamaica o país da liberdade do "One Love, One Life"do Bob Marley, a violência contra homossexuais em São Paulo, o reencontro de Luhli & Lucina que viveram um casamento a três no início do grupo Secos & Molhados e uma reportagem sobre a Nostro Mundo, a mais antiga casa gay da América Latina ainda em funcionamento, expondo sua importância na cultura LGBT da capital paulista e como ela ganhou importância até com Silvio Santos, que apresentava as "transformistas" em seu programa e dizia que a casa era tinha shows muito bonitos e onde você podia levar sua esposa, sua família.
Também queria dar destaque a uma nota interessante sobre um artista plástico brasileiro chamado Fernando Carpaneda que criou uma obra que mostra Jair Bolsonaro (o deputado anti-gay) em uma suruba, de modo totalmente "flex", digamos assim: a Bolsonaro's Sex Party. Ou seja...
Bolsonaro's Sex Party |
Se não quiser comprar a revista, o site oficial da revista Trip tem as matérias também. Mas eu não me arrependi de ter comprado a edição física. Só fiz essa "propaganda" porque achei a revista realmente boa e bem escrita.
Um comentário:
Muito bom!!!
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